Há algum tempo, recebemos uma sugestão de pauta sobre construção de séries fotográficas. Querendo ou não, a palavra “série” carrega uma responsabilidade enorme ao trabalho. Vamos começar chamando-o, então, de “projeto”. Um projeto fotográfico soa mais fácil, certo? Só soa. A determinação e o empenho são importantíssimos, independente do rótulo que se dê ao conjunto de fotografias.
Definindo o conceito:
Em relação à estética, praticamente tudo já foi produzido. Tente imaginar o tamanho do banco de dados do Flickr e do 500px e comprove essa teoria. Quer uma foto de papel higiênico? Tem lá! O que muda (sempre!) é a ligação e a interpretação de quem cria para com o que foi criado. Na fotografia autoral, essa é a parte que define os rumos do trabalho. É o significado que a fotografia tem para o fotógrafo, que é particular e indescritível. Às vezes, um projeto se expressa de diferentes maneiras sobre as pessoas, mesmo que, para o fotógrafo, a interpretação seja outra. Esse é o mal ao qual o artista precisa se submeter, a não ser que mantenha toda a sua produção guardada na gaveta.
Liberdade:
Felizmente, a fotografia autoral dá liberdade para que se produza o que vier na cabeça. “A fotografia é minha e, por isso, eu faço dela o que quiser.” Mas é importante, também, ter consciência do que se está fazendo. Um princípio artístico (visual ou narrativo) só pode ser defendido quando o artista souber que ele existe, assumindo isso como seu estilo pessoal.
No seu projeto pessoal sobre crianças, Francine de Mattos fotografou todos os retratos de um ângulo que, ao olhar de muitos, supõe “superioridade”. Ela assumiu essa característica e não se preocupou com as críticas.
Fator “tempo”:
Na execução de um projeto fotográfico, o tempo exerce duas funções: a do amadurecimento do conceito e, consequentemente, de quem o criou (raras vezes permanecemos fiéis à ideia inicial); e da modificação dos assuntos fotografados. Nunca crie nada em pouco tempo ou com pouco tempo.
O mais comum dos projetos fotográficos é o 365, uma fotografia por dia durante um ano. Nesses casos, compare a qualidade (luz, composição, criação) das primeiras fotografias com as últimas. Muitos desses projetos envolvem autorretratos; então tente observar também como a aparência do retratado muda.
O projeto 365 do fotógrafo Joeri Bosma. À esquerda, a 29ª imagem; à direita, 342ª.
Divulgação:
Nunca crie nada objetivando alcançar um público muito grande ou específico. Infelizmente, na maioria dos casos, o alcance do projeto tem a ver com o status que o fotógrafo já possuía antes. É importante divulgar? Sim. Mas não se esqueça: Fotografe, antes, por satisfação própria, e não para mostrar aos outros o quê você fez. Deixe o projeto em banho-maria até que você esteja certo sobre ele.