O tratamento de imagem é um frequente alvo de críticas, mas muitas pessoas só pensam nele quando veem algo que passou do ponto, como um umbigo ou uma mão que sumiram espantosamente. Hoje, praticamente tudo o que vemos é manipulado digitalmente, seja apenas uma correção de cores e contraste, ou, nos casos mais avançados, técnicas de reconstrução de pele e cabelos. E isso não é um advento da fotografia digital! Se você já viu a foto da Kim Kardashian para a revista Paper, saiba que a mesma ideia já havia sido usada pelo mesmo fotógrafo há 30 anos, quando o “tratamento” era recortar e manipular filmes num laboratório. Hoje, como a informação circula muito rápido, as fotos originais acabam caindo nas graças de leigos e se espalham pela internet. Nesses casos, o choque só acontece se vemos o antes-e-depois. Você pensa sobre a imagem da família feliz na parede da agência bancária? Sobre o hambúrguer no cardápio do seu fastfood favorito? Sobre o morango na embalagem do iogurte? Provavelmente não, porque raramente alguém tem acesso a essas imagens exatamente como saíram da câmera digital. Tratamento de imagem não é pecado! Se você aprender bem e souber dosar o que vale a pena ser usado no seu estilo de trabalho, essa pode ser mais uma das suas ferramentas de ouro. Vamos a algumas dicas?
1 – Edição é diferente de tratamento! Editar é conhecer todo o material que você fotografou e decidir o que será usado, e com que finalidade. Basicamente, é o que o módulo “Biblioteca” do Lightroom faz, marcando as fotos por cores, estrelas, etc. Na fotografia analógica, o processo de edição era feito manualmente através da contact sheet, a folha com os negativos ou cromos. O tratamento, por sua vez, é o melhoramento da imagem, que, no fluxo digital, geralmente começa com um arquivo raw no modo “Revelação” do Lightroom e pode se estender a retoques mais finos no Photoshop.
2 – Um bom tratamento depende de uma boa edição! De nada adianta saber as melhores técnicas de retoque se a foto escolhida para ser tratada não tiver potencial para se transformar numa imagem ainda mais incrível. Por mais bem feito que seja, todo tratamento passa por uma etapa destrutiva, onde a foto perde suas informações originais. Se você começar com uma imagem sub ou superexposta, sem foco, nitidez ou com uma iluminação ruim, seu resultado não será o melhor justamente porque a imagem também não é.
3 – Saiba qual o seu propósito! Você não vai transformar a pele de um diretor empresarial na pele de uma modelo. Você não vai fotografar um editorial para uma revista e entregar as imagens com correções básicas. Você não vai fotografar uma festa de aniversário e corrigir a pele de todos os convidados. Cada trabalho pede um tipo de tratamento, e cada cliente paga por um tipo de foto. Não gaste horas num trabalho simples, e não entregue o básico quando um trabalho minucioso tiver sido combinado. Saiba seu valor como fotógrafo e como retocador de imagem!
4 – Plug-ins são ótimos! Muita gente critica o uso de predefinições ou plug-ins, dizendo que esses aceleradores do processo de tratamento prejudicam a qualidade do produto final. Um bom manipulador de imagem pode, sim, se valer desses recursos durante o trabalho, mas a grande diferença está sem saber como e quando usá-los. Tratamento de imagem não é só sobre deixar uma foto mais bonita, mas também sobre toda a funcionalidade que existe durante o processo: ferramentas, funções, propósitos e, óbvio, praticidade.
5 – Comece pelo básico! Se você é novo nos estudos sobre tratamento, comece pelo que você acha que sabe fazer. Desafie-se a aprender um pouco todos os dias, mas não tente aprender dodge and burn se você não sabe como funcionam as camadas de ajuste e os modos de mesclagem. Os softwares mais conhecidos tem uma variedade enorme de ferramentas com funções parecidas, uma infinidade de menus e submenus. Explore tudo de maneira organizada e, se possível, anote o que você aprendeu. Assistir a vídeo-aulas e tutoriais também é um ótimo meio de treinar suas capacidades!
6 – Diferente não é melhor! Muita gente pensa que quanto mais diferente da imagem original, melhor é o resultado. Qualidade de trabalho não é distanciar-se do que a foto era, mas estabelecer um objetivo, pesquisar referências e criar um caminho funcional para chegar ao visual desejado. Diferente por diferente, bastaria colocar 20 filtros prontos sobre uma foto e pronto! Tratamento de imagem é um processo criativo, mas também consciente.
7 – Existem equipamentos para tratamento de imagem! Se seu monitor não exibe as cores corretamente, como você vai saber o que precisa ser corrigido? Pesquisar e investir em um bom monitor é essencial. Além disso, um calibrador de tela é indispensável, porque mesmo os bons monitores costumam vir com algumas variações de fábrica. Além da parte de visualização da imagem, se você pretende avançar seus estudos e desenvolver suas capacidades como retocador, uma mesa digitalizadora será indispensável para fazer retoques mais precisos e naturais, como cabelos, recortes ou o uso de outra ferramenta onde a sensibilidade à pressão possa fazer diferença. Isso tudo descontando a compra dos softwares e plug-ins originais…
8 – Tratamento avançado demora! Várias pessoas me perguntam qual é o jeito mais rápido e fácil de conseguir um bom resultado no tratamento de pele, e minha resposta é sempre a mesma: não existe. Quando o objetivo é um resultado impecável e natural, podemos chegar a trabalhar horas numa imagem. Mesmo às vezes recorrendo a alguns plug-ins e actions, um bom trabalho de observação detalhada vai dizer o que precisa e o que não precisa ser feito. O tratamento simples, feito no Lightroom, pode ser sincronizado rapidamente para outras imagens; o tratamento avançado, no Photoshop, não. Se cada foto é única, cada tratamento também deve ser.
9 – Observação é tudo! É possível ensinar a alguém o caminho exato de uma determinada técnica, mas o que dirá à pessoa quando será preciso usá-la é a experiência de observação. Você pode aprender diferentes técnicas sobre dodge and burn, mas para poder aplicá-las numa foto, você precisa, antes, saber localizar as altas luzes e as sombras. Do mesmo modo que um bom fotógrafo tem um olhar crítico pra saber o que é interessante, um bom retocador tem um o mesmo olhar para o que precisa ser melhorado. E esse olhar só é desenvolvido com a prática constante!
10 – Não apague seu portfólio! Se depois dessas dicas você estiver pensando em refazer o tratamento de alguma das fotos que tem, pare. Seu trabalho antigo pode servir de referência para o que você tem que melhorar, mas se você pretende renovar suas técnicas de tratamento, porque não aplicá-las num trabalho novo? Aproveite o momento e a energia para melhorar sua iluminação, composição e direção.