Friozinho aparecendo e não há nada melhor do que chegar em casa do trabalho ou esperar o final de semana para ver um bom filme debaixo das cobertas, certo? Pensando nisso, este mês faremos um especial dos melhores filmes sobre fotografia já lançados. Hoje, falaremos um pouco sobre o filme americano Sob Fogo Cerrado, do diretor Roger Spottiswoode.
A crítica de vários setores da sociedade atual sobre os fotojornalistas é mordaz: geralmente são vistos como pessoas frias, sem engajamento social e que querem obter lucros com a desgraça alheia. Talvez, tenham essa imagem por causa da espetacularização ou da intensa reprodução de imagens.
Até onde vai o limite do fotojornalismo ? Há um limite? A veracidade de uma informação está acima da luta de um povo pela liberdade? Todos esses questionamentos são abordados no filme Sob Fogo Cerrado, ambientado na Nicarágua. Apesar do seu antigo lançamento, em 1983, ainda se mostra extremamente atual, visto que a história mescla política, ética e amor, temas amplamente discutidos nos dias de hoje.
Deixando o amor e a política de lado, o clímax do filme é o momento em que a ética do fotógrafo é colocada à prova. Um fotojornalista tira uma foto de um líder rebelde morto, porém como se ainda estivesse vivo, para mostrar ao mundo que o governo estaria perdendo a guerra e assim impedir mais derramamento de sangue.
No caso, a manipulação do fotojornalista foi por uma boa causa: ajudar a população a se livrar de um presidente corrupto e violento. A função do fotojornalismo parece fácil, informar uma noticia através da imagem. Mas, como vemos no filme, o profissional transcende sua atividade para ajudar o outro, mesmo tendo que distorcer um fato.
Os mais “humanistas” criticam os fotojornalistas por ganharem a vida registrando momentos alheios. Muitos desses momentos são de tristeza, sofrimento, morte. Na condição de intermediário, o fotojornalista inevitavelmente vira cúmplice dos acontecimentos registrados. Profissionalmente, sua função é, somente, registrar o fato. Porém, é louvável que o fotojornalista se envolva quando sua participação for reconhecidamente importante, necessária.
Sob Fogo Cerrado é interessante no sentido de discutir esses temas com muita ação e uma boa dose de drama, tornando-o envolvente. Se o fotojornalismo atualmente se encontra em uma “encruzilhada”, muito se deve a forma da fotografia jornalística de hoje: muitas vezes simplesmente ilustrativa, com alguns elementos que podem torná-la “dramática”, mas, sem necessariamente estar em um ambiente dramático, como uma guerra, por exemplo.
O valor informativo, tão necessário ao fotojornalismo, perde-se a cada dia. Trata-se de uma estética vazia. “Comove, mas não informa”, como já disse um grande estudioso sobre o tema, Simonetta Persichetti. Por isso, mais do que nunca, talvez, Sob Fogo Cerrado seja tão essencial para qualquer fotógrafo: do amador ao profissional.
Ficha Técnica
Título original: Under Fire (1983)
Baseado na obra de Clayton Frohman
Diretor: Roger Spottiswoode
Roteirista: Clayton Frohman, Ron Shelton
Trilha Sonora: Jerry Goldsmith
Elenco: Nick Nolte, Gene Hackman, Joanna Cassidy, Ed Harris