Quando comprei minha câmera, uma Nikon D5000, há três anos, pensei que a lente do kit seria um grande problema. Sem ao menos testar e praticar o suficiente, coloquei na cabeça que precisaria de uma lente 50mm f/1.8. Aliás, eu não tinha colocado nada na cabeça porque não conhecia tanto de fotografia; as pessoas que eu conhecia é que faziam um alarde muito grande em torno da bendita “cinquentinha”.
Se a lente do kit (a minha é uma Lente 18-55mm f/3.5-5.6, mas existem outros modelos) fosse tão ruim, não viria na câmera. Não estou dizendo que é o equipamento mais incrível e que traz os melhores resultados; mas que é uma lente muito mais subestimada do que deveria ser, isso é.
Talvez eu “superestime” minha lente do kit por minha câmera não ter motor de foco para a 50mm. De qualquer forma, estabelecer prioridades se baseando na opinião de outras pessoas nunca é muito seguro. Nada como poder testar a lente ou o flash de um amigo antes de fazer uma compra precipitada. Se não puder fazer isso, ao menos pesquise em fóruns e revistas de fotografia as opiniões e reviews do equipamento que pretende adquirir, sempre verificando a compatibilidade com sua câmera.
Com o passar do tempo e sem usar a 50mm por falta de paciência para focar manualmente, aprendi três coisas sobre o meu trabalho. A primeira: descobri que não gosto tanto do bokeh de aberturas grandes. A segunda: por usar aberturas pequenas, passei a precisar do flash e descobri que prefiro trabalhar retratos em estúdio. A terceira: não gosto da falta de dinamismo para compor quando uso uma lente fixa.
Na situação em que me encontrava, não teria conseguido compor o retrato acima se usasse uma 50mm. [Repare: Estou sempre falando sobre a lente do kit e comparando-a à 50mm porque são as duas únicas que tenho e já usei. E porque são as duas lentes compradas primeiro por quase todos os fotógrafos.] Minha irmã estava no chão e eu tinha apenas uma pequena pedra pra subir e tentar abrir o plano ao máximo, pois minha ideia era compor a imagem com ela centralizada e bastante grama em volta. Usar a lente em 18 mm foi o suficiente.
Neste outro retrato (abaixo), queria ter um pouco de desfoco porque a cena tinha bastantes detalhes e texturas que não me interessavam. Acabei optando por uma abertura um pouco maior e usei a 50mm em f/2.8. Resultado: a textura da pele não ficou nítida como deveria. Consequência: mais tempo trabalhando no retouch.
Minha área preferida da fotografia são os retratos. Como eu normalmente trabalho mais em estúdio fotográfico que em externas, acabo recorrendo ao flash e, assim, posso usar aberturas menores que f/7.1. Como não há o que desfocar, consigo nitidez suficiente em todas as áreas essenciais do retrato, como olhos, pele, cabelo e roupa. Por uma simples questão de gosto pessoal e falta de necessidade, raramente faz sentido usar a 50mm em f/1.8. E mesmo se fizesse, não usaria, porque para qualquer lente recomenda-se usar dois pontos de abertura a mais que o normal para conseguir nitidez aceitável nas áreas de foco.
Quem tem a intenção de trabalhar com esportes ou eventos, áreas de pouca luz ou que requeiram um zoom mais potente, a lente de kit realmente pode ser um empecilho. Mas quem está começando provavelmente ficará trabalhando em projetos autorais por algum tempo e, nesses casos, investir em equipamentos mais caros é desperdício de dinheiro. Isso serve para lentes e câmeras: quem começa a fotografar precisa, antes, ter certeza de que explorou todas as possibilidades do equipamento antes de querer trocar ou comprar alguma coisa nova. E outra: algum tempo depois virá uma necessidade mais consciente de upgrade; e quem comprou compulsivamente no começo, provavelmente aproveitará pouca coisa – ou nada, se escolher trocar de marca.
Fotógrafo: Henrique Resende