O que é lomografia e como funciona ?

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Até 1990 quando a empresa americana Kodak inventou a primeira câmera digital do mundo, a fotografia podia, com mais propriedade, ser considerada uma arte, pois os resultados eram bem menos previsíveis, os fotógrafos mais exigidos e um ar de magia a circundava.

Uma série de fatores estava ali envolvido, como uma espécie de alquimia para cujos resultados dependia, exclusivamente, a habilidade e paciência do fotógrafo.

Para muitos, aquela tecnologia analógica, que não permitia muitas correções e reparos, e que exigia a espera de vários dias para que a imagem fosse obtida, com surpresa, após o processo de revelação, tinha, senão uma maior qualidade, ao menos uma qualidade artística inegável, devido ao tom de naturalidade e espontaneidade que, para muitos, as câmeras digitais não conseguem oferecer.

É com base nessa filosofia que se mantém até hoje o conceito da lomografia. Um movimento que prega a volta do uso das câmeras Lomo, ou até mesmo de qualquer câmera fotográfica analógica, sem preocupações com regras, enquadramento ou perfeição das imagens.

Apenas e tão somente o prazer de clicar “irresponsavelmente”, para a obtenção de imagens cotidianas e o mais espontâneas possível.

O que é a lomografia?
o que e lomografia

A lomografia é uma espécie de movimento dentro da fotografia, cuja principal característica é o uso das câmeras Lomo pelo maior número de pessoas possível.

As câmeras Lomo-Leningradskoye Optiko Mechanichesckoye Obyedinenie (União de Óptica Mecânica de Leningrado) são máquinas com pequenas dimensões, com características bastante peculiares de ser uma tecnologia com preço baixo, quando comparadas com as demais, e que pela sua praticidade e simplicidade pode ser utilizada por qualquer pessoa, mesmo que não tenha profundos conhecimentos em fotografia.

A tecnologia das câmeras Lomo pertence a uma fabricante de equipamentos militares sediada em São Petersburgo (Rússia), e atualmente é uma espécie de mito, muito cultuada por amantes da fotografia, resultando na criação de uma verdadeira irmandade espalhada por todo o mundo: a Sociedade Lomográfica Internacional.

Seus principais estatutos são: seja rápido, não se preocupe com o ambiente a ser fotografado, aproveite todos os momentos para capturar uma imagem, colecione suas fotos, espalhe essa ideia de liberdade em fotografia e compartilhe com todos as suas descobertas.

Atualmente os seguidores da lomografia estão espalhados por vários países do mundo, como: Alemanha, Vietnã, Cuba, Canadá, China, Itália, além de vários outros países, inclusive, o Brasil.

Como surgiu a lomografia?
como surgiu lomografia

No ano de 1982, ainda durante a famosa Guerra Fria, o general Soviético Igor Petrowitsch Kornitzky, homem de confiança do Ministro da Defesa do país, interessado em criar algo que se transformasse num símbolo da Rússia e que, além disso, pudesse ser utilizado pelas pessoas comuns para registrar o dia a dia das famílias soviéticas, determinou ao então responsável pelas operações da fábrica russa LOMO-PLC, Michail Panfiloff, que criasse um modelo russo da câmera fotográfica japonesa Cosina.

Fascinado pela tecnologia da Cosina, que tinha como principais características a lente fotográfica translúcida e a sua incrível sensibilidade à luz, o general exigiu que esse novo modelo russo, bem menor em tamanho, porém bastante resistente e barato, fosse fabricado em série pela companhia e espalhado por todo o país, a fim de que em cada residência houvesse um modelo desse equipamento.

Iniciava-se, com isso, uma espécie de revolução da fotografia no país, onde cada indivíduo agora tinha a liberdade de registrar o cotidiano russo sem preocupações com as técnicas fotográficas propriamente ditas.

Mesmo com o encerramento da produção em meados dos anos 90, uma legião de amantes da lomo, que soma quase meio milhão de seguidores, passaram a reunir-se constantemente, criando o que seria conhecido como a Lomografia; movimento que propõe manter acesa a chama e o ideal de uma fotografia mais artística e completamente livre de regras.

Como funciona a lomografia?
como funciona lomografia

A tecnologia por trás das câmeras Lomo permite que ela tenha uma sensibilidade maior à luminosidade do ambiente, fazendo com que essa luminosidade seja constante e intensa. Isso se dá, dentre outros motivos, devido à longa exposição da imagem, que dura 30 segundos.

Esse processo de longa exposição à luminosidade, muito conhecido em fotografia, permite que uma maior quantidade de luz entre pelas suas lentes que, pelo fato de serem de plástico e com uma clareza incomparável, facilita os registros em cores bem mais vibrantes e com uma sensação de nitidez, que é uma das principais características desse estilo.

A lomografia, resultante da “adoração” à forma de captura de imagens das câmeras Lomo, foi, portanto, criada para incentivar um tipo de registro natural, feito ao sabor da ocasião, não pensada e, basicamente, sobre situações familiares e do cotidiano.

O não uso do flash nas câmeras Lomo, por exemplo, permite cores mais saturadas e menos artificiais, tornando o resultado mais realista e subvertendo a lógica da fotografia, que exige preocupações técnicas com foco, contraluz, acabamento das imagens, enquadramento; além de outras técnicas que são postas de lado pela filosofia divulgada pela lomografia e seus seguidores.

É considerada uma filosofia analógica, ao considerar esse tipo de tecnologia mais natural, original e artística, quando comparada à tecnologia digital.

Os efeitos nas câmeras Lomo 

Os efeitos fotográficos das câmeras Lomo, têm muito a ver com o modelo e as lentes utilizadas durante o processo. Algumas chegam a produzir o efeito “olho de peixe” das Câmeras DSLR (fotos com imagem circular). Outras produzem o efeito panorâmico, onde todo o ambiente é abarcado em uma só captura; além das diferenças de tonalidades, bordas e mesclagem.

Como as lentes são de plástico, os resultados tendem a serem mais artísticos, com aspectos vintage, surreais, escurecidos, enigmáticos, etc.

Aplicativos como o Instagram, por exemplo, inspiraram-se nos filtros das câmeras Lomo para criar os seus efeitos nos processos de edição de fotografias.

Modelos como a Diane+, Holga, LC-A, Fish-eye, por exemplo, proporcionam efeitos surpreendentes, entre outras coisas, devido à diferença de tempo para cada fotograma, o não uso do flash ou do visor; recursos, muitas vezes, artesanais que substituem as tecnologias mais modernas e avançadas na captura de imagens fotográficas.

Essas e outras características fazem da lomografia um movimento fotográfico à parte, que atualmente toma conta da internet, e serve como um refúgio para aqueles que veem a fotografia como um meio para a criatividade artística.

As regras básicas da lomografia

As recomendações básicas da lomografia são em número de 10, e podem ser traduzidas por: Esteja sempre com a sua Lomo perto de você, fotografe em qualquer momento do dia ou da noite, a lomografia faz parte da sua vida e não é apenas parte dela, esteja sempre perto do alvo a ser fotografado, não pense enquanto fotografa, haja rapidamente, não se preocupe com o que vai fotografar, a fotografia não é feita com os olhos, e não utilize regras.

Essa filosofia, que pode ser transposta para a vida, é a base da lomografia. Onde a tecnologia deve estar a serviço da arte e a fotografia deve ser a sua mais autêntica expressão.

Quem utiliza uma câmera Lomo para os seus registros fotográficos deve saber até que ponto o profissionalismo pode interferir na espontaneidade da fotografia, assim como até que ponto interfere no prazer de fotografar.

Deve estar pronto para ser surpreendido, atento a situações inusitadas e que para muitos passariam despercebidas; além de utilizar mais os mecanismos da intuição e da emoção para decidir o momento de utilizar a câmera.

E, talvez o mais importante de tudo, não ater-se a preocupações formais com as regras, que devem ser restritas ao manuseio básico do equipamento e à sua manutenção e segurança.

Segundo os adeptos da lomografia, agindo assim, os resultados serão verdadeiramente surpreendentes, não apenas para quem aprecia, como também para o próprio fotógrafo.

A Lomomania
lomomania

A Lomomania ou o culto à fotografia através das câmeras Lomo, teve início nos anos 90, na cidade de Praga, capital da República Tcheca. Dois amigos vienenses, despretensiosamente caminhando pelas ruas da cidade, descobrem numa pequena loja de equipamentos eletrônicos um exemplar desse modelo.

A partir de então, passam a capturar imagens onde quer que estivessem, de forma distraída e sem compromisso e, ao chegar em casa, um susto! A intensidade da luz e das cores combinadas com a qualidade das fotos os impressionou de tal modo que logo passaram a espalhar o culto da lomografia por onde quer que passassem.

Não demorou para que no ano de 1995 a Sociedade Lomográfica fosse criada com o intuito de espalhar a novidade e evitar que a tecnologia das máquinas Lomo deixasse de ser desenvolvida; além de realizar eventos culturais com o objetivo de divulgar a lomografia e através de cursos e vendas de máquinas que não demoraram a espalhar-se por vários países.

Toda essa euforia culminou com a criação da LomoWordArchive, um projeto de divulgação dos registros fotográficos de lomógrafos de várias partes do mundo, além de um veículo de comunicação para os amantes dessa tecnologia que agora se aliava à arte em todo o planeta.

A trajetória da lomografia
trajetoria lomografia

Com o passar do tempo a arte executada por trás das câmeras Lomo ganhou o status de movimento cultural internacional, onde um novo viés artístico fotográfico, iniciado em Viena, passava a influenciar profissionais da fotografia de várias partes do mundo.

Passou a ser vista como uma filosofia de vida, extrapolando a sua dimensão fotográfica, para incentivar seus ideais de espontaneidade e improviso em todas as artes.

Um dos principais meios de sobrevivência do movimento, sem dúvida, foi a venda de equipamentos fotográficos , muitos considerados raridades, e outros tipos de lançamentos. Além disso, diversas exposições, palestras, cursos, atividades culturais, eventos, publicação de livros, etc., vêm ajudando o movimento da lomografia a perpetuar-se como uma ideia dentro dos esquemas profissionais da fotografia.

Somam-se a esses esforços, para manter o ideal representado pela lomografia, o envolvimento de alguns segmentos culturais, como: música, televisão, cinema e, principalmente, a internet. Afirmando que a forma de captura de imagens das câmeras Lomo serviu como fonte de inspiração para algumas vertentes da fotografia atual, principalmente, do ponto de vista técnico e estético.

Conseguindo os efeitos das Câmeras Lomo
efeito lomografia

Para alguns seguidores mais radicais, obter os efeitos da tecnologia das câmeras Lomo só pode ser possível através do uso de um equipamento Lomo original.

Porém, há uma outra vertente na fotografia que prega que basta apenas aderir ao uso de um equipamento analógico para que se consiga obter os mesmos efeitos, já que, para estes, a lomografia trata-se de uma filosofia, um modo de agir; não sendo, portanto, imprescindível o uso de uma câmera Lomo original.

Seguindo essa linha de raciocínio, algumas tecnologias em programas de computador, como o Photoshop, por exemplo, possuem recursos que prometem a qualquer amante da fotografia obter os efeitos de uma câmera Lomo em seus registros fotográficos.

No caso específico do Photoshop, o usuário pode utilizar o recurso Gradiente Map, que cria comandos de ajustes, insere cores e tonalidades específicas, substitui o modo de mesclagem; resultando num aspecto vintage, com bordas escurecidas, cores intensas e um aspecto bem mais realista.

Também o aplicativo Logo Câmera promete reproduzir esse efeito “transformando” um smartphone numa espécie de câmera Lomo, com os recursos action sampler, olho de peixe além de uma infinidade de filtros que tornam as imagens semelhantes às da Lomografia.

Considerações Finais
cameras lomo

Para os amantes da lomografia, a sua grande vantagem é a possibilidade de brincar com os seus mecanismos e extrair disso vários efeitos singulares.

Por exemplo, muitos manipulam os filtros das câmeras a fim de criar efeitos de imagem, ambientes escurecidos ou envelhecidos. Utilizam o verso do filme, o que garante um vermelho mais intenso nas fotos.

Manipulam o ISO da câmera a fim de aumentar a entrada de luz através das lentes. Fotografam sem olhar no visor, para surpreender-se com o resultado das fotos. Fotografam em movimento e sem o flash; além de várias outras técnicas artesanais que transformam a fotografia numa espécie de experimentação.

Câmeras como a LC-A e a Diane, por exemplo, permitem a captura de fotos com imagens surreais e fantásticas, utilizando diversos tipos de filtros para dar mais intensidade às cores. Utilizam plásticos coloridos derretidos no flash para conseguir efeitos. E tudo o mais que possa utilizar a tecnologia de uma câmera analógica a serviço da arte.

Agora fique à vontade para comentar esse artigo. Compartilhando conosco suas informações sobre esse curioso universo da lomografia.

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