No terceiro artigo da nossa série “Os grandes fotógrafos da história”, em comemoração ao Dia do Fotógrafo (8 de janeiro), falaremos sobre uma fotógrafa americana que só teve reconhecimento mundial após sua morte: Vivian Maier.
Nascida em fevereiro de 1926, na cidade de Nova York, pouco se sabe sobre a sua infância e adolescência. Apenas que, ainda pequena, viveu na França e voltou aos Estados Unidos já moça. Foi nesse momento que começou a trabalhar como babá, profissão que desempenhou durante quase quatro décadas.
Vivian Maier é uma figura enigmática e excêntrica até hoje. Ela foi e ainda é objeto de muitos trabalhos acadêmicos. Além disso, despertou o interesse em vários biógrafos que tentam desvendar o mistério da mulher e fotógrafa. Principalmente, por ser vista como independente e liberal em uma época onde o machismo permeava (ainda mais) a cultura americana.
Do hobby a glória? Nada disso
Sabe-se, inicialmente, que ela começou a fotografar em seus dias de folga. Vivian saia andando pelas ruas de Nova York sem rumo ou destino certo. Gostava de conhecer novos lugares e capturar a alma, a efervescência da cidade que nunca dorme.
Sua melhor amiga era uma câmera Rolleiflex, equipamento fotográfico alemão com duas lentes. Nesse caso, a lente superior servia para refletir a imagem num vidro fosco, (enquadramento) e a inferior para captação da imagem.
As fotografias de Maier são de paisagens urbanas e conseguem transpor o apreciador à mesma época que foram capturadas. Formidável retratista, chamam atenção as imagens de mulheres, crianças, moradores de rua, trabalhadores e afro-americanos.
Em 2008, Vivian Maier faleceu em uma casa de repouso em Chicago, aos 83 anos. Não foi casada, não teve filhos e nem teve amigos próximos.
Veio a luz
As fotos de Vivian Maier só foram descobertas por acidente em 2009, um ano após sua morte. John Maloof, um corretor de imóveis e historiador de Chicago, procurava material fotográfico para a elaboração de um livro. Oor isso, passava boa parte dos seus dias em leilões, feiras e mercados de pulgas. Até que, certo dia, arrematou por 400 dólares em um leilão, 30 mil negativos e 1.600 rolos de filmes não revelados. Ali estava parte do material de Vivian.
Curiosamente, Maloof não se interessou de início e guardou em um armário por um ano. Até que, durante um jantar em sua casa, revelou a seus amigos um caso “inquietante”: milhares de fotografias que retratavam Nova York e Chicago nas décadas de 1950 e 1960. O caso realmente havia despertado um interesse fora do comum nele ao ponto de revelar as fotos, criar um blog e começar a estudar fotografia em casa.
Em 2009, enquanto procurava informações sobre a autora das fotografias (ele só tinha conhecimento do nome), postou um link no seu blog sobre o que deveria fazer com as fotos de uma tal Vivian Maier. Para sua surpresa, em 24 horas, recebeu 200 respostas. uitas, com outros relatos sobre fotos de Vivian.
A saber, haviam outros lotes em leilões com fotos dela, fazendo com que Maloof tentasse arrematar o máximo que conseguisse. Hoje, sua coleção conta com 150 mil negativos (a maioria não revelada) e 3 mil fotos impressas. Até onde se sabe, essas fotos nunca se tornaram públicas enquanto Vivian estava viva.
Reconhecimento tardio
Com um material tão rico, Maloof organizou um livro com as fotos e uma exposição, em 2011, período que Vivian Maier finalmente teve seu reconhecimento. Embora tardio, as fotos da mulher que preferiu o anonimato durante toda uma vida explodiram no universo fotográfico. Desse modo, aos poucos, pessoas que tiveram contato com ela começaram a aparecer.
John Maloof entrevistou 90 pessoas entre quem foi cuidado por ela enquanto babá, membros da família que trabalhou e até colegas de quando a fotógrafa morou na França. Nesse sentido, as principais entrevistas podem ser vistas no documentário indicado ao Oscar, “Finding Vivian Maier”. Em português, “Procurando Vivian Maier”.
Os últimos achados de Vivian são de poucos pertences pessoais e roteiros de viagem. Maier viajou muito e, é claro, registrou cada passo. Passou pela América Central e do Sul, inclusive, conhecendo São Paulo e Rio de Janeiro. Também perambulou pela Europa, Oriente Médio e Ásia.
Os principais estudiosos do trabalho de Vivian a classificam como um ser que “desafia nossas ideias de uma pessoa, um artista e, especialmente, uma mulher deveria ser… alguém bastante livre, que gostava de estar à margem, e que viveu a vida que quis viver”.